Razão e Fé

"A tradição católica desde o início rejeitou o assim chamado fideísmo, que é a vontade de crer contra a razão. Creio quia absurdum (creio porque é absurdo) não é fórmula que interpreta a fé católica. Deus, na verdade, não é absurdo, mas sim é mistério. O mistério, por sua vez, não é irracional, mas uma superabundância de sentido, de significado, de verdade. Se, olhando para o mistério, a razão vê escuridão, não é porque no mistério não tenha a luz, mas porque existe muita (luz). Assim como quando os olhos do homem se dirigem diretamente ao sol para olhá-lo, veem somente trevas; mas quem diria que o sol não é luminoso, antes a fonte da luz? A fé permite olhar o “sol”, Deus, porque é acolhida da sua revelação na história e, por assim dizer, recebe verdadeiramente toda a luminosidade do mistério de Deus, reconhecendo o grande milagre: Deus se aproximou do homem, ofereceu-se ao seu conhecimento, consentindo ao limite criador da sua razão (cfr Conc. Ec. Vat. II, Cost. Dogm. Dei Verbum, 13). Ao mesmo tempo, Deus, com a sua graça, ilumina a razão, abre-lhe horizontes novos, imensuráveis e infinitos. Por isto, a fé constitui um estímulo a buscar sempre, a não parar nunca e nunca aquietar-se na descoberta inesgotável da verdade e da realidade. É falso o pré-juízo de certos pensadores modernos, segundo os quais a razão humana seria como que bloqueada pelos dogmas da fé. É verdade exatamente o contrário, como os grandes mestres da tradição católica demonstraram. Santo Agostinho, antes de sua conversão, busca com tanta inquietação a verdade, através de todas as filosofias disponíveis, encontrando todas insatisfatórias. A sua cansativa investigação racional é para ele uma significativa pedagogia para o encontro com a Verdade de Cristo. Quando diz: “compreendas para crer e creias para compreender” (Discurso 43, 9:PL 38, 258), é como se contasse a própria experiência de vida. Intelecto e fé, antes da divina Revelação, não são estranhas ou antagonistas, mas são ambas duas condições para compreender o sentido, para transpor a autêntica mensagem, se aproximando-se do limite do mistério. Santo Agostinho, junto a tantos outros autores cristãos, é testemunha de uma fé que se exercita com a razão, que pensa e convida a pensar. Neste sentido, Santo Anselmo dirá em seu Proslogion que a fé católica é fides quaerens intellectum, onde o buscar a inteligência é ato interior ao crer. Será sobretudo São Tomás de Aquino – forte nesta tradição – a confrontar-se com a razão dos filósofos, mostrando quanta nova fecunda vitalidade racional vem ao pensamento humano do acoplamento dos princípios e da verdade da fé cristã." (Trecho da Catequese de Bento XVI - Racionalidade da fé em Deus - 21/11/2012)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

As finalidades e os efeitos da Santa Missa

A ausência dos católicos às Santas Missas também encontra motivação, dentre outras razões, na crescente ignorância quanto às finalidades e aos efeitos da Santa Missa. Por isso, não percamos de vista seu real significado: 
Em sua encíclica Mediator Dei, o venerável Papa Pio XII presenteou todo o povo cristão com um verdadeiro tesouro doutrinal, explicando com precisão e eloquência o que é a sagrada liturgia e em que consiste o sacrifício da Santa Missa.
É na segunda parte deste documento, de modo particular, que Sua Santidade, a partir das sentenças dogmáticas do imortal Concílio de Trento, desenvolve o seu Magistério sobre a celebração eucarística.
Ele começa por explicar a sua natureza: "O augusto sacrifício do altar não é (...) uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima"01. Substancialmente, o sacrifício do Calvário e o sacrifício eucarístico são o mesmo sacrifício. Quando o sacerdote sobe ao altar e, emprestando a Cristo a sua língua e a sua mão02, oferece a Santa Missa por todos os homens, está fazendo não só a mesma coisa que Jesus fez naquela ceia derradeira03, mas também aquele ato de entrega realizada no madeiro da Cruz. A diferença é que, enquanto no Calvário Jesus se entregou de modo cruento, isto é, derramando o Seu sangue, na última ceia e nos altares de nossas igrejas este sacrifício é oferecido sem derramamento de sangue ("incruentamente"). Preleciona Pio XII:
"Na cruz, com efeito, ele se ofereceu todo a Deus com os seus sofrimentos, e a imolação da vítima foi realizada por meio de morte cruenta livremente sofrida;no altar, ao invés, por causa do estado glorioso de sua natureza humana, 'a morte não tem mais domínio sobre ele' (Rm 6, 9) e, por conseguinte, não é possível a efusão do sangue; mas a divina sabedoria encontrou o modo admirável de tornar manifesto o sacrifício de nosso Redentor com sinais exteriores que são símbolos de morte. Já que, por meio da transubstanciação do pão no corpo e do vinho no sangue de Cristo, têm-se realmente presentes o seu corpo e o seu sangue; as espécies eucarísticas, sob as quais está presente, simbolizam a cruenta separação do corpo e do sangue. Assim o memorial da sua morte real sobre o Calvário repete-se sempre no sacrifício do altar, porque, por meio de símbolos distintos, se significa e demonstra que Jesus Cristo se encontra em estado de vítima."04
Assim, é importante explicar: durante a celebração da Santa Missa, Jesus não está, por assim dizer, "sofrendo de novo" o Calvário, experimentando a agonia da coroa de espinhos ou carregando novamente todo o peso da cruz. A entrega feita no sacrifício eucarístico, no entanto, é a mesma: o oferente é o próprio Jesus – "é Ele mesmo quem preside invisivelmente toda Celebração Eucarística"05 – e trata-se da mesma vítima: "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo"06A diferença de modo entre as duas é apenas acidental, não muda a substância do sacrifício.
Pela transubstanciação, estão presentes debaixo das espécies do pão e do vinho Jesus Cristo em corpo, sangue, alma e divindade. Por força do sacramento, no pão está o Seu corpo e, no vinho, o Seu sangue; mas, pela realidade dos fatos, Jesus todo está presente tanto no pão quanto no vinho. É assim porque, estando Ele ressuscitado e no Céu em corpo glorioso, não pode mais ser separado. O uso do pão e do vinho como matéria deste sacramento, no entanto, significa esta "cruenta separação" do Seu corpo e do Seu sangue, ocorrida na Cruz.
Pio XII também indica que não só o ministro e a vítima dos dois sacrifícios são "idênticos", mas também os fins.
O primeiro deles é a glorificação de Deus (latrêutico). Trata-se da "adoração". A típica atitude de adoração consiste em pôr-se de joelhos diante de Deus, rebaixando-se diante d'Ele e reconhecendo-se um nada. Na Cruz, Jesus adorou o Pai de modo perfeitíssimo. "Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de um escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz"07.
Durante a Santa Missa, por mais que se tenha um sacerdote ou uma assembleia indigna, Jesus está oferecendo a mesma adoração perfeita que ofereceu no madeiro da Cruz. Ainda que todos os seres humanos e todos os anjos juntos cultuassem a Deus, não conseguiriam jamais superar o valor desta oferta do próprio Deus. Por esse motivo, é impossível comparar o augusto Sacrifício do altar com as chamadas "celebrações da Palavra". Se por um lado estas celebrações comunitárias são importantes em lugares com carência de padres, por outro, é realmente muito triste que a sua frequência indevida acabe por obscurecer as diferenças substanciais entre a Missa e uma simples "reunião fraterna". Na Missa, o padre age in persona Christi; na celebração da Palavra, ao invés, ainda que a comunidade faça parte do Corpo Místico de Cristo, não há como ocorrer a consagração do pão e do vinho, uma vez que "o povo (...) não pode de nenhum modo gozar dos poderes sacerdotais"08.
A segunda finalidade da Missa é eucarística, ou seja, dar a Deus ação de graças. O homem, que tudo recebe de Deus, tem-lhe uma dívida de ação de graças que não poderia jamais pagar, a menos que o Senhor mesmo não se fizesse homem e sanasse esta dívida por ele. "A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja exprime seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que ele realizou por meio da criação, da redenção e da santificação. (...) Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de sorte que o sacrifício de louvor é oferecido por Cristo e com ele para ser aceito nele"09.
O terceiro fim deste memorial é propiciatório, isto é, oferecer uma expiação pelos nossos pecados. Com o pecado, o homem ofende a Deus e Este, por sua vez, espera do homem, além do arrependimento, a reparação de sua ofensa. Se os sacrifícios oferecidos pelos antigos "simplesmente devolviam a Deus as coisas que Ele mesmo havia criado: touros, ovelhas, pão e vinho", na Santa Missa, "irrompe um elemento novo e maravilhoso: pela primeira vez e todos os dias, a humanidade pode já oferecer a Deus um dom digno dEle: o dom do seu próprio Filho, um dom de valor infinito, digno de Deus infinito"10. Só desta forma os crimes cometidos pelo homem contra Deus podem ser plenamente satisfeitos.
Por fim, a quarta finalidade da Missa é impetratória: Jesus "nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade"11Nos altares de nossas igrejas, Jesus continua colocando-se entre a humanidade e o Pai e pedindo a Ele as graças necessárias para nossa salvação.
Para lograr os efeitos da redenção de Jesus, no entanto, é preciso que o homem se abra a Deus. Por isso, ensina Pio XII, "é necessário que depois de haver resgatado o mundo com o elevadíssimo preço de si mesmo, Cristo entre na real e efetiva posse das almas"12. Para ilustrar que, mesmo oferecendo o Santo Sacrifício por todos os homens, apenas alguns muitos verdadeiramente aproveitam de sua eficácia, o Santo Padre faz uma bela analogia: "Pode-se dizer que Cristo construiu no Calvário uma piscina de purificação e de salvação e a encheu com o sangue por ele derramado; mas se os homens não mergulham nas suas ondas e aí não lavam as manchas de sua iniquidade, não podem certamente ser purificados e salvos"13.
Para tanto, urge que os fiéis participem "do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote (...), oferecendo com ele e por ele, santificando-se com ele"14.
O protagonista da Sagrada Liturgia é Jesus, que oferece ao Pai o dom precioso de Si mesmo. Não é a comunidade que está no centro da Missa; a ação principal não está sendo realizada nem pelo sacerdote nem pela assembleia, mas por Jesus. Para participar ativamente da Santa Missa, os fiéis devem ser motivados a perscrutar o que se passa no altar, e não inventar jograis, danças ou outras coisas que, em última instância, acabam desviando o foco de toda a ação litúrgica da Cruz.

Artigo recomendado

  1. "Christus Passus" nella dottrina eucarística di San Tommaso d'Aquino

Referências

  1. Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, n. 61
  2. Cf. São João Crisóstomo, In Joan. Hom., 86, 4
  3. Cf. Mt 26, 1-16; Mc 14, 1-11; Lc 22, 7-23
  4. Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, n. 63
  5. Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1348
  6. Jo 1, 29
  7. Fl 2, 6-7
  8. Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, n. 76
  9. Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 1360 e 1361
  10. Trese, Leo John. A fé explicada. Trad. Isabel Perez. 7. ed. São Paulo: Quadrante, 1999. P. 320
  11. Hb 5, 7
  12. Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, n. 70
  13. Ibidem
  14. Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, n. 73

Assistam, ainda, à explicação do abençoado Pe. Paulo Ricardo, em vídeo.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O Grito Silencioso - Vídeo

O mais indefeso dos seres humanos não merece nossa proteção? Não é dever de toda a sociedade proteger o mais fraco?

Todo esse sangue inocente clama aos céus!!!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ALEGRIA: NASCEU O SALVADOR

I Sermão de Natal de São Leão Magno: a alegria do Natal


"Caríssimos: Nasceu hoje o nosso Salvador; alegremo-nos. Porque não é permitido haver tristeza, quando nasce a vida, a qual acabando com o temor da morte, nos infunde a alegria com a promessa da eternidade. E ninguém é excluído da participação desta alegria. Todos têm igual motivo de se alegrarem, porque nosso Senhor, destruidor do pecado e da morte, assim como não encontrou ninguém livre de culpa, do mesmo modo veio a todos libertar. Exulte o Santo porque se aproxima do triunfo; alegre-se o pecador porque é convidado ao perdão; tenha ânimo o gentio, porque é chamado para a vida. Com efeito, o Filho de Deus, na plenitude do tempo estabelecido pela imperscrutável profundeza do conselho divino, assume, para reconciliar com o seu autor, a natureza do gênero humano, a fim de que o demônio inventor da morte fosse vencido por aquela natureza, que ele primeiro havia vencido. Ó grande mistério e admirável sacramento, verem os animais ao Senhor nascido deitado no presépio. Bem Aventurada a Virgem cujas entranhas mereceram trazer o Cristo Senhor. Ave Maria, cheia de graça, O senhor é contigo, Bem Aventurada."

O Ocidente que destrona Deus e a Verdade caminha à loucura

ESCRITO POR LEONARDO BRUNO | 04 JANEIRO 2013 
ARTIGOS - CULTURA

Não é espantoso observar que as filosofias modernas, ainda que prometam a liberdade, neguem o indivíduo?
 Ao perder a fé em Deus e Jesus Cristo, o Ocidente não está apenas se degenerando. Está literalmente enlouquecendo.

Dentre tantas questões da nossa época, encontradas na filosofia e em muitas perspectivas políticas, há três grandes revoltas da modernidade: a revolta contra Deus; a revolta contra a verdade; e a revolta contra o homem.

Revela-se no Ocidente a revolta contra Deus. As ideologias políticas e certas escolas filosóficas excluem Deus da história e do universo moral, político, ético e existencial do homem. O elemento da moda difundida nas universidades, na mídia e na opinião pública em geral é o materialismo e o ateísmo. Nestas teorias, o homem não precisa mais da realidade transcendente. Ele se basta a si mesmo.
A velha Europa destronou o fundamento histórico, moral e simbólico do Cristianismo nas instituições. Grupos fanáticos de militantes secularistas e esquerdistas se revoltam contra símbolos religiosos e contra a imagem maior da cruz em várias nações do mundo. A manifestação da fé cristã é hostilizada e marginalizada, senão criminalizada. Na Suécia chegou-se ao cúmulo de falar do Natal nas escolas excluindo o nome de Jesus Cristo. O nome do menino Jesus incomoda muitos. Na lógica deles, a religião deve ser extirpada da vida pública. O único mundo a ser valorizado é o terreno, o material, o temporal.
Por outro lado, há o sacrifício da verdade. É um lugar comum afirmar que a verdade não mais existe. Ou que ela é uma ilusão dos filósofos antigos e medievais. Há, ainda, pessoas que afirmam ser a verdade "intolerante", geradora de ódios e fanatismos. Em nome da tolerância, que tal abolir a idéia da verdade? Cada pessoa terá sua idéia, sua moral e seu fundamento e ninguém incomodará a outra com seus pensamentos. O relativismo, contraditoriamente, é o dogma da modernidade, a falsa verdade absoluta disfarçada de negação de todas as verdades.
Por fim, o homem é diminuído. As filosofias que negam a existência de Deus e da verdade, negam também a dignidade humana. A sacralidade da vida humana é relativizada. Neste prisma, o ser humano não passa de um composto químico orgânico, de um animal mais evoluído. Não há nenhuma questão substancialmente distintiva em relação às outras espécies. Como ser apenas biológico, um dia morrerá e sumirá. Na verdade, o homem é considerado mero produto da matéria, uma insignificante engrenagem que faz parte de um todo abstrato, porém onipotente, chamado "natureza", com suas forças irracionais e impessoais. Sua inteligência e sua razão são impotentes para enfrentar ou compreender as circunstâncias pelas quais vive.
Não é espantoso observar que as filosofias modernas, ainda que prometam a liberdade, neguem o indivíduo? A própria individualidade não passa de um efeito acidental das circunstâncias. Ela é sempre produto do meio, da genética, da sexualidade, das forças de produção econômica, da coletividade, da estrutura cultural, social e política ou da matéria. Em outras palavras, o homem não é livre. Sua liberdade e existência perdem-se num complexo arbitrário de fatores que não consegue perceber conscientemente. O homem é considerado figura amorfa de mais variados determinismos. Contudo, essa perspectiva tem uma contradição fatal: só os seus defensores conseguem perceber conscientemente essas influências. O que, na prática, confirma categoricamente a autonomia da consciência.
A consequência da negação de Deus na história é a negação da unidade existencial do homem como ser revestido de essência. Se a moral, a cultura, as idéias, o acúmulo de conhecimentos, a filosofia, o direito e a própria história são apenas meros fragmentos existenciais dos homens que não se comunicam entre si, logo, essa realidade histórica vivida pela espécie humana não possui unidade, nem coerência. Para quê guardar o passado, se a vida só é eterno presente, eterna temporalidade? Para quê preservar a civilização, se ela não tem continuidade em seus legados? Se não há Deus na história, toda a moral, todo o conhecimento e toda a civilização se diluem em caprichos e paixões irracionais de uma época. A realidade ontológica do homem na história se perde num emaranhado de existências sem qualquer propósito, sem qualquer correlação, sem qualquer nexo de causalidade.
Não é por acaso que o senso de moralidade definhou muito no século XX. A realidade dos campos de extermínio nazistas ou dos gulags soviéticos é a lógica elementar de uma moral utilitária, que não obedece a valores perenes, mas sim a circunstâncias e desvarios políticos. Sem a dignidade inata do homem, sem a lei natural e a transcendência, o indivíduo pode perfeitamente ser uma cobaia de um experimento social ou vítima do extermínio. O propósito de sua existência não é intrínseco à transcendência ou permanência. Depende dos caprichos de uma época, das convenções do momento, das paixões e opiniões massificadas de uma ideologia ou credo político.
Falou-se de transcendência. Sem ela, o homem não tem a perspectiva adequada para hierarquizar os valores e as relações das coisas no universo. Não tem a faculdade nem mesmo de pensar na ciência. Até porque as noções de ato, potência, da causalidade e seus efeitos não podem ser compreendidas dentro de uma ordem arbitrária e irracional. A confusão mental da atualidade é crer que a ciência possa substituir a filosofia, a metafísica, a teologia e outras demais formas de conhecimento. Na prática, a própria ciência se autodestrói. Vira um mito, uma mistificação esotérica.
E a abolição da verdade? É surpreendente pensar que os intelectuais, filósofos e ativistas queiram revogar a distinção básica entre verdade e erro, quando na prática, não conseguem desvinculá-la do dia a dia. É possível viver sem confiar na verdade? É possível fundamentar qualquer tipo de conhecimento no ceticismo e no agnosticismo absolutos? É possível viver sem confiança? Imaginemos uma pessoa não confiar no seu vizinho, no que lê, no que faz ou no que acredita? Isso é humanamente possível sem causar degeneração na consciência? A própria pregação em favor do ceticismo e agnosticismo absolutos implica uma crença numa verdade, ainda que contraditoriamente a negue. De fato, os céticos confiam demais no seu ceticismo, ainda que seu método, na prática, possa entrevar o raciocínio. É um estranho excesso de fé no nada. A negação prévia da verdade pode se tornar negação também da realidade. O cético, como um sofista, nega a verdade pela inépcia ou pela covardia de buscá-la.
Aristóteles já dizia que uma das faculdades mais profundas do homem é o saber. O saber que nasce de um assombro, de uma contemplação da realidade ao seu redor. Toda filosofia de ceticismo é uma negação do assombro pela indiferença. A negação da verdade e o relativismo implicam transformar todo o conhecimento humano numa mentira conveniente. Então, não haverá verdades propriamente ditas, mas disputas retóricas falaciosas e facciosas. Na lógica do relativismo, convencer alguém é mentir melhor do que o outro. Entretanto, será que alguém vive na mentira? Será possível a mentira viver substancialmente na realidade, já que ela pertence a um não-ser, a algo inexistente? Se a mentira conveniente do relativismo fundamenta o discurso moral, político e filosófico, o que se pode esperar disso?
Se ninguém tem compromisso com a verdade, o que resta é a imposição da mentira. Numa situação como esta, qualquer compromisso moral de honestidade já foi jogado na lata do lixo. Se há algo que se pode concluir de uma boa parte das filosofias modernas é a mentira sistematizada, consciente. Dentro do maior século da mentira, o século XX.
Tal sintoma não apenas gera desprezo pela verdade. A consequência mais grave é o ódio até pela realidade. Variados grupos políticos propõem uma modificação radical da realidade, pelos desvarios tirânicos de suas ideologias. Grande parte dos regimes totalitários do século XX tinham este objetivo.
As loucuras atuais do politicamente correto e da engenharia social, visando remodelar comportamentos e pensamentos, são elementos nada desprezíveis do desprezo pela realidade. Uma questão é bastante clara: a realidade não pode ser apagada. No mínimo, negada. No máximo, destruída. E mesmo assim existirá, sob escombros.
O Cristianismo é um das poucas sólidas referências em um mundo cada vez mais confuso, perdido, dominado por credos perversos ou ceticismos vazios. Ao perder a fé em Deus e Jesus Cristo, o Ocidente não está apenas se degenerando. Está literalmente enlouquecendo. A ditadura do relativismo desumaniza o homem. Rebaixa as instituições e a moral. Contamina a verdade de falsidades. Destrona Deus e absolutiza a natureza e o Estado.
Sem Deus, o homem perde o senso da ordem da natureza e a noção da dignidade intrínseca que possui no universo. Sem a verdade, deixa de conhecer a realidade e se perde na escuridão e ignorância. Ou, na pior das hipóteses, enlouquece. E o caminho de tudo isso é a despersonalização, a morte e o aniquilamento. Eis o abismo que espera o Ocidente.



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

MISSA DA NOITE DE NATAL SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica Vaticana 24 de Dezembro de 2012

Véspera de Natal: recordemos as palavras de Bento XVI. 

 MISSA DA NOITE DE NATAL SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI Basílica Vaticana 24 de Dezembro de 2012 

"Amados irmãos e irmãs! A beleza deste Evangelho não cessa de tocar o nosso coração: uma beleza que é esplendor da verdade. Não cessa de nos comover o facto de Deus Se ter feito menino, para que nós pudéssemos amá-Lo, para que ousássemos amá-Lo, e, como menino, Se coloca confiadamente nas nossas mãos. Como se dissesse: Sei que o meu esplendor te assusta, que à vista da minha grandeza procuras impor-te a ti mesmo. Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar. Sempre de novo me toca também a palavra do evangelista, dita quase de fugida, segundo a qual não havia lugar para eles na hospedaria. Inevitavelmente se põe a questão de saber como reagiria eu, se Maria e José batessem à minha porta. Haveria lugar para eles? E recordamos então que esta notícia, aparentemente casual, da falta de lugar na hospedaria que obriga a Sagrada Família a ir para o estábulo, foi aprofundada e referida na sua essência pelo evangelista João nestes termos: «Veio para o que era Seu, e os Seus não O acolheram» (Jo 1, 11). Deste modo, a grande questão moral sobre o modo como nos comportamos com os prófugos, os refugiados, os imigrantes ganha um sentido ainda mais fundamental: Temos verdadeiramente lugar para Deus, quando Ele tenta entrar em nós? Temos tempo e espaço para Ele? Porventura não é ao próprio Deus que rejeitamos? Isto começa pelo facto de não termos tempo para Deus. Quanto mais rapidamente nos podemos mover, quanto mais eficazes se tornam os meios que nos fazem poupar tempo, tanto menos tempo temos disponível. E Deus? O que diz respeito a Ele nunca parece uma questão urgente. O nosso tempo já está completamente preenchido. Mas vejamos o caso ainda mais em profundidade. Deus tem verdadeiramente um lugar no nosso pensamento? A metodologia do nosso pensamento está configurada de modo que, no fundo, Ele não deva existir. Mesmo quando parece bater à porta do nosso pensamento, temos de arranjar qualquer raciocínio para O afastar; o pensamento, para ser considerado «sério», deve ser configurado de modo que a «hipótese Deus» se torne supérflua. E também nos nossos sentimentos e vontade não há espaço para Ele. Queremo-nos a nós mesmos, queremos as coisas que se conseguem tocar, a felicidade que se pode experimentar, o sucesso dos nossos projectos pessoais e das nossas intenções. Estamos completamente «cheios» de nós mesmos, de tal modo que não resta qualquer espaço para Deus. E por isso não há espaço sequer para os outros, para as crianças, para os pobres, para os estrangeiros. A partir duma frase simples como esta sobre o lugar inexistente na hospedaria, podemos dar-nos conta da grande necessidade que há desta exortação de São Paulo: «Transformai-vos pela renovação da vossa mente» (Rm 12, 2). Paulo fala da renovação, da abertura do nosso intelecto (nous); fala, em geral, do modo como vemos o mundo e a nós mesmos. A conversão, de que temos necessidade, deve chegar verdadeiramente até às profundezas da nossa relação com a realidade. Peçamos ao Senhor para que nos tornemos vigilantes quanto à sua presença, para que ouçamos como Ele bate, de modo suave mas insistente, à porta do nosso ser e da nossa vontade. Peçamos para que se crie, no nosso íntimo, um espaço para Ele e possamos, deste modo, reconhecê-Lo também naqueles sob cujas vestes vem ter connosco: nas crianças, nos doentes e abandonados, nos marginalizados e pobres deste mundo. Na narração do Natal, há ainda outro ponto que gostava de reflectir juntamente convosco: o hino de louvor que os anjos entoam depois de anunciar o Salvador recém-nascido: «Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens do seu agrado». Deus é glorioso. Deus é pura luz, esplendor da verdade e do amor. Ele é bom. É o verdadeiro bem, o bem por excelência. Os anjos que O rodeiam transmitem, primeiro, a pura e simples alegria pela percepção da glória de Deus. O seu canto é uma irradiação da alegria que os inunda. Nas suas palavras, sentimos, por assim dizer, algo dos sons melodiosos do céu. No canto, não está subjacente qualquer pergunta sobre a finalidade; há simplesmente o facto de transbordarem da felicidade que deriva da percepção do puro esplendor da verdade e do amor de Deus. Queremos deixar-nos tocar por esta alegria: existe a verdade; existe a pura bondade; existe a luz pura. Deus é bom; Ele é o poder supremo que está acima de todos os poderes. Nesta noite, deveremos simplesmente alegrar-nos por este facto, juntamente com os anjos e os pastores. E, com a glória de Deus nas alturas, está relacionada a paz na terra entre os homens. Onde não se dá glória a Deus, onde Ele é esquecido ou até mesmo negado, também não há paz. Hoje, porém, há correntes generalizadas de pensamento que afirmam o contrário: as religiões, mormente o monoteísmo, seriam a causa da violência e das guerras no mundo; primeiro seria preciso libertar a humanidade das religiões, para se criar então a paz; o monoteísmo, a fé no único Deus, seria prepotência, causa de intolerância, porque pretenderia, fundamentado na sua própria natureza, impor-se a todos com a pretensão da verdade única. É verdade que, na história, o monoteísmo serviu de pretexto para a intolerância e a violência. É verdade que uma religião pode adoecer e chegar a contrapor-se à sua natureza mais profunda, quando o homem pensa que deve ele mesmo deitar mão à causa de Deus, fazendo assim de Deus uma sua propriedade privada. Contra estas deturpações do sagrado, devemos estar vigilantes. Se é incontestável algum mau uso da religião na história, não é verdade que o «não» a Deus restabeleceria a paz. Se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então, este deixa de ser a imagem de Deus, que devemos honrar em todos e cada um, no fraco, no estrangeiro, no pobre. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros. Os tipos de violência arrogante que aparecem então com o homem a desprezar e a esmagar o homem, vimo-los, em toda a sua crueldade, no século passado. Só quando a luz de Deus brilha sobre o homem e no homem, só quando cada homem é querido, conhecido e amado por Deus, só então, por mais miserável que seja a sua situação, a sua dignidade é inviolável. Na Noite Santa, o próprio Deus Se fez homem, como anunciara o profeta Isaías: o menino nascido aqui é «Emmanuel – Deus-connosco» (cf. Is 7, 14). E verdadeiramente, no decurso de todos estes séculos, não houve apenas casos de mau uso da religião; mas, da fé no Deus que Se fez homem, nunca cessou de brotar forças de reconciliação e magnanimidade. Na escuridão do pecado e da violência, esta fé fez entrar um raio luminoso de paz e bondade que continua a brilhar. Assim, Cristo é a nossa paz e anunciou a paz àqueles que estavam longe e àqueles que estavam perto (cf. Ef 2, 14.17). Quanto não deveremos nós suplicar-Lhe nesta hora! Sim, Senhor, anunciai a paz também hoje a nós, tanto aos que estão longe como aos que estão perto. Fazei que também hoje das espadas se forjem foices (cf. Is 2, 4), que, em vez dos armamentos para a guerra, apareçam ajudas para os enfermos. Iluminai a quantos acreditam que devem praticar violência em vosso nome, para que aprendam a compreender o absurdo da violência e a reconhecer o vosso verdadeiro rosto. Ajudai a tornarmo-nos homens «do vosso agrado»: homens segundo a vossa imagem e, por conseguinte, homens de paz. Logo que os anjos se afastaram, os pastores disseram uns para os outros: Coragem! Vamos até lá, a Belém, e vejamos esta palavra que nos foi mandada (cf. Lc 2, 15). Os pastores puseram-se apressadamente a caminho para Belém – diz-nos o evangelista (cf. 2, 16). Uma curiosidade santa os impelia, desejosos de verem numa manjedoura este menino, de quem o anjo tinha dito que era o Salvador, o Messias, o Senhor. A grande alegria, de que o anjo falara, apoderara-se dos seus corações e dava-lhes asas. Vamos até lá, a Belém: diz-nos hoje a liturgia da Igreja. Trans-eamus – lê-se na Bíblia latina – «atravessar», ir até lá, ousar o passo que vai mais além, que faz a «travessia», saindo dos nossos hábitos de pensamento e de vida e ultrapassando o mundo meramente material para chegarmos ao essencial, ao além, rumo àquele Deus que, por sua vez, viera ao lado de cá, para nós. Queremos pedir ao Senhor que nos dê a capacidade de ultrapassar os nossos limites, o nosso mundo; que nos ajude a encontrá-Lo, sobretudo no momento em que Ele mesmo, na Santa Eucaristia, Se coloca nas nossas mãos e no nosso coração. Vamos até lá, a Belém! Ao dizermos estas palavras uns aos outros, como fizeram os pastores, não devemos pensar apenas na grande travessia até junto do Deus vivo, mas também na cidade concreta de Belém, em todos os lugares onde o Senhor viveu, trabalhou e sofreu. Rezemos nesta hora pelas pessoas que actualmente vivem e sofrem lá. Rezemos para que lá haja paz. Rezemos para que Israelitas e Palestinianos possam conduzir a sua vida na paz do único Deus e na liberdade. Peçamos também pelos países vizinhos – o Líbano, a Síria, o Iraque, etc. – para que lá se consolide a paz. Que os cristãos possam conservar a sua casa naqueles países onde teve origem a nossa fé; que cristãos e muçulmanos construam, juntos, os seus países na paz de Deus. Os pastores apressaram-se… Uma curiosidade santa e uma santa alegria os impelia. No nosso caso, talvez aconteça muito raramente que nos apressemos pelas coisas de Deus. Hoje, Deus não faz parte das realidades urgentes. As coisas de Deus – assim o pensamos e dizemos – podem esperar. E todavia Ele é a realidade mais importante, o Único que, em última análise, é verdadeiramente importante. Por que motivo não deveríamos também nós ser tomados pela curiosidade de ver mais de perto e conhecer o que Deus nos disse? Supliquemos-Lhe para que a curiosidade santa e a santa alegria dos pastores nos toquem nesta hora também a nós e assim vamos com alegria até lá, a Belém, para o Senhor que hoje vem de novo para nós. Amen."  

Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2012/documents/hf_ben-xvi_hom_20121224_christmas_po.html

A Igreja Católica: Construtora da Civilização (Completo e Legendado)

Thomas Woods e sua espetacular série, legendada.


A Missa Jamais Terminada - O Milagre

Ainda sobre o irrefutável milagre de Lanciano e a análise dos cientistas:

São Pio de Pietrelcina


Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr.:
A vida de São Pio de Pietrelcina


Fonte: http://padrepauloricardo.org



Filme Completo: SÃO PADRE PIO DE PIETRELCINA - Imagem Digital.



Belíssimo filme. Vale cada minuto.


Ultima Missa de Padre Pio.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Direto do inferno - Olavo de Carvalho


Texto importantíssimo do filósofo Olavo de Carvalho.




Direto do inferno
Olavo de Carvalho

Jornal da Tarde, 13 de abril de 2000


O clamor obsessivo dos intelectuais, dos políticos e da mídia pela "supressão das desigualdades" e por uma "sociedade mais justa" pode não produzir, mesmo no longo prazo, nenhum desses dois resultados ou qualquer coisa que se pareça com eles. Mas, de imediato, produz ao menos um resultado infalível: faz as pessoas acreditarem que o predomínio da justiça e do bem depende da sociedade, do Estado, das leis, e não delas próprias. Quanto mais nos indignamos com a "sociedade injusta", mais os nossos pecados pessoais parecem se dissolver na geral iniqüidade e perder toda importância própria.
Que é uma mentira isolada, uma traição casual, uma deslealdade singular no quadro de universal safadeza que os jornais nos descrevem e a cólera dos demagogos verbera em palavras de fogo do alto dos palanques? É uma gota d'água no oceano, um grão de areia no deserto, uma partícula errante entre as galáxias, um infinitesimal ante o infinito. Ninguém vai ver. Pequemos, pois, com a consciência tranqüila, e discursemos contra o mal do mundo.
Eliminemos do nosso coração todo sentimento de culpa, expelindo-o sobre as instituições, as leis, a injusta distribuição da renda, a alta taxa de juros e as hediondas privatizações.
Só há um problema: se todo mundo pensa assim, o mal se multiplica pelo número de palavras que o condenam. E, quanto mais maldoso cada um se torna, mais se inflama no coração de todos a indignação contra o mal genérico e sem autor do qual todos se sentem vítimas.
É preciso ser um cego, um idiota ou completo alienado da realidade para não notar que, na história dos últimos séculos, e sobretudo das últimas décadas, a expansão dos ideais sociais e da revolta contra a "sociedade injusta" vem junto com o rebaixamento do padrão moral dos indivíduos e com a conseqüente multiplicação do número de seus crimes. E é preciso ter uma mentalidade monstruosamente preconceituosa para recusar-se a ver o nexo causal que liga a demissão moral dos indivíduos a uma ética que os convida a aliviar-se de suas culpas lançando-as sobre as costas de um universal abstrato, "a sociedade".
Se uma conexão tão óbvia escapa aos examinadores e estes se perdem na conjeturação evasiva de mil e uma outras causas possíveis, é por um motivo muito simples: a classe que promove a ética da irresponsabilidade pessoal e da inculpação de generalidades é a mesma classe incumbida de examinar a sociedade e dizer o que se passa. O inquérito está a cargo do criminoso. São os intelectuais que, primeiro, dissolvem o senso dos valores morais, jogam os filhos contra os pais, lisonjeiam a maldade individual e fazem de cada delinqüente uma vítima habilitada a receber indenizações da sociedade má, e, depois, contemplando o panorama da delinqüência geral resultante da assimilação dos novos valores, se recusam a assumir a responsabilidade pelos efeitos de suas palavras. Então têm de recorrer a subterfúgios cada vez mais artificiosos para conservar uma pose de autoridades isentas e cientificamente confiáveis.
Os cientistas sociais, os psicólogos, os jornalistas, os escritores, as "classes falantes", como as chama Pierre Bourdieu, não são as testemunhas neutras e distantes que gostam de parecer em público (mesmo quando em família se confessam reformadores sociais ou revolucionários). São forças agentes da transformação social, as mais poderosas e eficazes, as únicas que têm uma ação direta sobre a imaginação, os sentimentos e a conduta das massas. O que quer que se degrade e apodreça na vida social pode ter centenas de outras causas concorrentes, predisponentes, associadas, remotas e indiretas; mas sua causa imediata e decisiva é a influência avassaladora e onipresente das classes falantes.
Debilitar a consciência moral dos indivíduos a pretexto de reformar a sociedade é tornar-se autor intelectual de todos os crimes - e depois, com redobrado cinismo, apagar todas as pistas. A culpa dos intelectuais ativistas na degradação da vida social, na desumanização das relações pessoais, na produção da criminalidade desenfreada é, no seu efeito conjunto, ilimitada e incalculável. É talvez por eles terem se sujado tanto que suas palavras de acusação contra a sociedade têm aquela ressonância profunda e atemorizante que ante a platéia ingênua lhes confere uma aparência de credibilidade. Ninguém fala com mais força e propriedade contra o pecador do que o demônio que o induziu ao pecado. O discurso dos intelectuais ativistas contra a sociedade vem direto do último círculo do inferno.

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE LANCIANO

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE LANCIANO

"Aquele que come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia." (Jo 6,55). 



Era uma manhã de domingo comum, na cidade italiana de Lanciano, no mosteiro de São Legoziano, onde viviam os Monges de São Basílio. O mais incrédulo deles proferia as palavras da Oração Eucarística, quando, de repente, ocorreu o inesperado. Os olhos assustados do religioso denunciavam o evento. Deus havia condecorado a sua suspeita quanto à transubstanciação com o mais prodigioso dos milagres eucarísticos de que se ouviu falar.
A hóstia convertera-se em Carne viva e o vinho em Sangue Vivo. O pequeno monge que outrora duvidara da presença real de Cristo na Eucaristia agora era obrigado a reconhecer sua tolice, pedindo perdão a Deus - e à comunidade presente - por sua falta de fé: "Ó bem-aventuradas testemunhas diante de quem, para confundir a minha incredulidade, o Santo Deus quis desvendar-se neste Santíssimo Sacramento e tornar-se visível aos vossos olhos. Vinde, irmãos, e admirai o nosso Deus que se aproximou de nós. Eis aqui a Carne e o Sangue do nosso Cristo muito amado!" 01
Comoção geral. A pequena assembleia reunida se lançou sobre o altar, chorando e clamando a misericórdia de Deus. Havia nascido um novo São Tomé. O monge ganhara a fama do cético apóstolo de Jesus e Lanciano, as multidões que se dirigiram à cidade, ano após ano, em longas peregrinações.
A princípio, os fiéis guardaram as relíquias num tabernáculo de marfim, mas, em 1713, foram transferidas para uma custódia de prata e um cálice de cristal, onde se encontram até hoje, na Igreja de São Francisco. Enquanto o Sangue se dividia em cinco fragmentos, coagulados em diferentes dimensões, a Hóstia-Carne aparentava um tecido fibroso, de coloração escura, e rósea quando iluminado pelo lado oposto.
A Igreja reconheceu o milagre de Lanciano em 1574. Mas foi somente em novembro de 1970 que os Frades Menores Conventuais, os responsáveis pela guarda das relíquias, tiveram a autorização para submetê-las ao exame de dois médicos. Concluída a pesquisa, em Arezzo, os renomados doutores Linoli e Bertelli publicaram um relatório, dizendo:
"A Carne é verdadeira carne, o Sangue é verdadeiro sangue. A Carne é do tecido muscular do coração (miocárdio, endocárdio e nervo vago). A Carne e o Sangue são do mesmo tipo sangüíneo (AB) e pertencem à espécie humana. No sangue foram encontrados, além das proteínas normais, os seguintes materiais: cloretos, fósforos, magnésio, potássio, sódio e cálcio. A conservação da Carne e do Sangue, deixados em estado natural por 12 séculos e expostos à ação de agentes atmosféricos e biológicos, permanece um fenômeno extraordinário."
Os resultados foram tão impactantes que antes mesmo do fim da análise, os médicos enviaram um telegrama aos Frades, confessando-lhes o espanto: "E o Verbo se fez Carne!". É assim que o Milagre de Lanciano, desafiando a ação do tempo e toda a lógica da ciência humana, se apresenta aos nossos olhos como a prova mais viva e palpável de que "Comei e bebei todos vós, isto é o meu Corpo que é dado por vós."
Em 1975, durante o Ano Santo, o Cardeal Karol Wotyla, futuro João Paulo II, fez uma peregrinação privada ao Santuário do Milagre Eucarístico em Lanciano. Recordando a ocasião numa visita Ad Limina dos bispos italianos dessa região, o Santo Padre insistiu para que a Eucaristia não fosse adorada “só na igreja do milagre, mas em todas as igrejas da vossa bonita terra.” 02
Curiosamente, o tipo sanguíneo das relíquias é o mesmo encontrado no Santo Sudário.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere