O blog
publica algumas notas/reflexões de Alexandre Semedo de Oliveira*, sobre temas
diversos:
- Realidade, teorias, razão, capitalismo e socialismo
Chesterton, em seu livro Ortodoxia, disse que, ao
contrário do que pensamos, o louco não é alguém que perdeu a razão, mas alguém
que perdeu tudo, menos a razão. O verdadeiro louco é aquele que perdeu o
contato com a realidade e que vive imerso em seu mundinho teórico.
E, justamente por isto, é impossível convencê-lo
do que quer que seja.
Ao dizer isto, Chesterton ilustrou, ao meu ver
magistralmente, a situação intelectual do Ocidente ao menos de Kant para cá. O
homem ocidental vive em torno de teorias e não se preocupa, minimamente, em
confrontá-las com o mundo real.
Somente isto pode explicar o porquê de, sendo
tão evidente que o comunismo é um sistema intrinsicamente mal (e de resultados
concretamente desastrosos) tantos ainda o apoiam. Como na teoria ele promete um
mundo lindo, no qual todos são iguais, as pessoas que embarcam nesta bobagem
fazem das tripas coração para defender a teoria (o socialismo é melhor que o
capitalismo), sem jamais olhar para a realidade que a desmente da forma mais
brutal possível (em qualquer país em que o comunismo se tornou a regra, as
pessoas vivem a vida mais miserável que se possa imaginar, e, se possível,
fariam de tudo para deixar o inferno no qual estão imersas).
Mas é o que eu digo: nada mais difícil do que
convencer o Inri de que ele não é Jesus Cristo de verdade...
- Amor à Verdade, fatos e teorias, criminalidade
Caríssimos,
O ocidente se construiu sob uma premissa
fundamental: verdade conhecida, verdade obedecida. Uma teoria só valia se
confirmada pela realidade das coisas. Bastava que um homem sério fosse posto
diante de um fato real para que, se necessário, mudasse seus conceitos,
adequando-os à realidade mesma que lhe era apresentada.
Ao menos desde Kant, contudo, isto mudou. A
realidade não nos importa mais. Agarramo-nos a teorias e somente a elas. Mesmo
que os fatos as desmintam. Mesmo que as seguir sustentando represente, na
prática, um suicídio.
Porém, tudo seguirá como antes. Disto eu tenho
certeza.
Mesmo diante deste quadro, surgirão vozes
reafirmando que o problema é de cunho social. "Especialistas" dirão
que, se tratarmos bem os bandidos, se buscarmos não sua punição (não sei porque
parece absurdo a muitos que o Direito Penal vise punir os criminosos), mas sua
ressocialização, que se diminuirmos a população carcerária e que se dermos tudo
de graça para todos, então a violência diminuirá.
Novamente, digo que muitos se apegarão a
teorias e desprezarão solenemente a realidade.
Mas a realidade é esta: talvez o Brasil seja o
país mais perigoso para se viver no mundo. Depois de décadas de políticas
imbecis e idiotas, depois de décadas de sentenças e acórdãos lenientes
(reconheçamos nossas culpas), depois de décadas do assistencialismo mais
rastaquera que se possa imaginar, a sociedade brasileira está ruindo,
corrompida desde dentro em todos os valores morais.
Isto, contudo, não abalará nem um pouco a
confiança dos que seguem conduzindo o país para a catástrofe, sejam eles
políticos, juízes ou formadores de opinião.
Propaganda anticristã – Sobre reportagem recente que aponta que
papiro que faz menção à “mulher” de Jesus não é falso – link
para reportagem
Ó céus! Mais do mesmo!
É só se aproximarem as festas cristãs do Natal
e da Páscoa que, ano após ano, a mídia ocidental vai bombardear os pobres dos
cristãos som seus factóides e com suas reportagens sensacionalistas.
Uma vez que somos
todos juízes, acho que entendemos muito bem a diferença entre uma falsidade
material e uma ideológica. Ainda que o papiro não seja materialmente
falso, a questão é saber se a informação nele contida é minimamente confiável.
Porque, se for falsa, o papiro será falso do mesmo jeito.
É óbvio que não existe a mais vaga razão para
que se desprezem textos cristãos do primeiro século nos quais se atesta a
veracidade dos acontecimentos do Evangelho, ao mesmo tempo que se incensem
papiros muito mais tardios, escritos em círculos gnósticos cujo comprometimento
com a verdade histórica é rigorosamente nenhum.
Até mesmo Bart Ehrman, possivelmente o
estudioso da atualidade mais crítico do Novo Testamento, reconhece que a
crença dos cristãos na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo remonta, aos
primeiros anos do cristianismo.
Existem literalmente milhões de cópias de
manuscritos dos primeiros três séculos que nos permitem saber, com certeza, que
o texto do Novo Testamento original é aquele que temos hoje e que qualquer
teoria de que eles tenham sido corrompidos não passa de mera especulação.
Todas estas evidências são solenemente
desprezadas.
Mas, basta surgir um testozinho de um papiro do
século sexto (ou do século nono) para que a propaganda anticristã se renove.
- “Jesus histórico”
O grande problema de toda esta celeuma por
detrás da busca do "Jesus histórico" é que ela parte do pressuposto
que o Personagem do Novo Testamento não é histórico para chegar-se à conclusão
de que Ele é apenas um mito. Toma-se por provado o que se quer provar, sendo
que o leitor comum não percebe esta armadilha.
O fato, contudo, é que a grande dispersão de
cópias antigas do Novo Testamento e a imensidade de manuscritos que chegaram
até nós é o que de mais sólido historicamente falando temos acerca de uma
pessoa que tenha vivido no mundo antigo. Se não pudermos tomar os quatro
Evangelhos como narrativas históricas, teremos que admitir que nada sabemos nem
podemos saber de ninguém ou de fato algum que tenha acontecido talvez até o
advento da imprensa.
O ceticismo que este pessoal emprega
quanto ao texto dos Evangelhos não é empregado para rigorosamente mais nenhum
documento do mundo antigo. E isto tem uma razão: se admitissem que os
Evangelhos são fidedignos, então, teriam que admitir que o Homem nele retratado
perfez os maiores milagres de que já se ouviu falar, ressuscitando mortos,
andando sobre água, acalmando tempestades com um mero gesto. Teriam que admitir
que Ele morreu numa Cruz e que Seus discípulos O viram três dias depois,
ressuscitado (coisa que mesmo Reza Aslam, um historiador muçulmano engajado em
denegrir a imagem de Jesus Cristo, admite). Teriam que admitir que Ele afirmou
ser Deus em pessoa e que apenas quem n’Ele cresse é que tem salvação.
E, admitindo isto, teriam que mudar
radicalmente suas vidas.
Daí o ceticismo exacerbado: ele é fruto de uma
necessidade apriorística de negar um fato seja lá com que argumentos for.
É muito bom lembrar-se disto sempre que
factóides como este surgirem na imprensa.
-
Proposta de deputado estadual mineiro
para a reserva de 10% das vagas, em concursos públicos do Estado de Minas, a
dependentes químicos - link
para reportagem.
Para alguns, a ideia pode parecer imbecil, mas,
na verdade, não é. É apenas perversa. Talvez haja imbecis que a aprovem, mas
quem quer que seja que a tenha concebido não é exatamente um ser desprovido de
cérebro; é desprovido de moral.
Uma boa lei deve incentivar as virtudes e
coibir os vícios. Uma lei que claramente premia um vício é destinada a ser mais
um passo rumo à tão sonhada corrupção absoluta da sociedade brasileira, como
manda a revolução de que tanto temos falado.
Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte:
a reserva de vagas valerá para concursos para a polícia, para o MP e para a
Magistratura?
- Sobre direitos humanos e o Estado Moderno
Dizer que os direitos humanos nasce com os
Estados Modernos é uma patente bobagem. Os intelectuais brasileiros parecem não
perder a mania de achar que o Estado é fonte de tudo.
Ora, se os direitos são humanos (inerentes à
pessoa humana) eles pré-existem aos Estados Modernos, e a fonte deles não é
nenhuma organização política nem qualquer legislação: a fonte deles (ora bolas)
está na própria natureza do homem. Mas já viu, né: admitir isto seria abrir
espaço para um questionamento absolutamente incômodo para qualquer
"intelectual" moderno: qual a natureza humana e quem (aliás, Quem) a constituiu?
E, como magistrado, não tenho nenhuma
"crença inabalável" na humanidade (acreditar nisto depois de tudo o
que aconteceu no século XX é fechar os olhos para a realidade das coisas). Ao
contrário, penso (como já disse) que temos uma tendência inata ao mal.
Esquecer-se de tal tendência é o que tem permitido, aí sim, desde o surgimento
dos estados Modernos, todo tipo de despotismo e de barbaridades.
- Sobre o Evolucionismo
Antes que a questão se transforme em mais um
celeuma quilométrico, deixem-me esclarecer o que eu penso.
a) Existe um debate científico acerca do evolucionismo (e ele está facilmente
acessível a todos nestes tempos de internet). Tanto os defensores da ideia
quanto os detratores dela apontam para determinadas evidências, sem que qualquer dos lados aponte para provas
definitivas.
b) Assim, tudo o que nos é possível é,
honestamente, conhecer os argumentos de ambos os lados e apontar quais aqueles
que nos convencem, sem jamais termos a pretensão de dar, nós mesmos, uma
palavra definitiva sobre o assunto.
c) Por exemplo, pessoalmente entendo que a
existência das chamadas complexidades irredutíveis, o fato da explosão de vida
ocorrida no período pré-cambriano e a completa ausência de registro fóssil que
comprove qualquer evolução de uma espécie à outra são argumentos muito mais
convincentes contra a evolução do que qualquer coisa que eu já tenha ouvido dos
evolucionistas. Da mesma forma, argumentos metafísicos ("o menos complexo
nunca gera o mais complexo", razão pela qual seria muito mais plausível
que o macaco fosse uma degeneração do homem do que o homem uma evolução do
macaco) são extremamente convincentes para mim.
Por outro lado, argumentos como o que apela para
a existência de órgãos aparentemente sem função ou para a semelhança
embrionária das mais diversas espécies, parecem-me extremamente fracos e
sacados na base do se
non è vero, è bene trovato, o que me faz
pensar que a razão está do lado dos que dizem que não houve evolução alguma.
d) Contudo, por ser pessoalmente incapaz de
checar, por exemplo, se as complexidades irredutíveis realmente existem, penso
que não posso ter a pretensão de uma opinião definitiva sobre o assunto. Apenas
conversar amistosamente sobre ele.
Se alguém aqui (além de ser um juiz, e que,
portanto, sabe tudo de
leis - como acham nossos familiares) realmente se achar com competência
científica para emitir um verdadeiro juízo definitivo acerca da matéria, então,
por favor, identifique-se e diga em qual Comarca trabalha, para que eu possa
pessoalmente dirigir-me até lá para pedir um autógrafo.
Sobre o decreto
8.243/14, do Executivo Federal, que cria a PNSP – Política Nacional de Participação
Social e o Sistema Nacional de Participação Social
É bastante significativo o comentário de
um dos textos sugeridos
por você sobre Marcuse (tradução minha):
"Marcuse considerava a tolerância tradicional como 'tolerância repressiva', que precisava ser substituída pela 'tolerância libertadora'.
Resumidamente, a tolerância libertadora envolvia a 'intolerância contra os movimentos da direita e tolerância para com os de esquerda.' Os Movimentos da Esquerda incluíam o ativismo de vários grupos, que Marcuse encorajava a se identificarem como oprimidos,
incluindo os homossexuais, mulheres, negros e imigrantes. Somente os grupos minoritários, como estes, poderiam ser considerados objetos legítimos de tolerância."
Tome-se
este texto e releia-se o decreto do PNSP, no qual se diz que um dos objetivos é
o de "desenvolver mecanismos de participação social acessíveis
aos grupos sociais historicamente excluídos e aos vulneráveis”.
Bem, as bases para quem quiser
investigar o que realmente está acontecendo estão bem dadas. E repito: que cada
um tire suas próprias conclusões. As minhas, com certeza, eu já tirei.
- Ciência, Verdade e Santo Sundário
Um dos problemas com a tua abordagem é que ela parece supor que quem defende
determinadas posições é, necessariamente, um analista enviesado e, portanto,
indigno de credibilidade. Porém, quem defende outras, em nome da
"ciência", é, necessariamente, imparcial e aborda determinados temas
com uma absoluta neutralidade.
Mas não é assim. Infelizmente, muitos
(provavelmente a maioria) dos cientistas têm um compromisso com uma visão de
mundo materialista e, portanto, devemos ter com determinadas conclusões vindas
deles a mesma cautela que você parece ter com conclusões vindas de outros
grupos. Gosto muito de citar um discurso de um biólogo, Richard
Lewontin:
““Nós ficamos do lado da ciência, apesar do
patente absurdo de algumas de suas construções, apesar de seu fracasso para
cumprir muitas de suas extravagantes promessas em relação à saúde e vida,
apesar da tolerância da comunidade científica em prol de teorias certamente não
comprovadas, porque nós temos um compromisso prévio, um compromisso com
o materialismo. Não que os métodos e instituições da ciência de
algum modo compelem-nos a aceitar uma explicação material dos fenômenos do
mundo, mas, ao contrario, somos forçados por nossa prévia adesão ao
conceito materialista do universo a criar um aparato de investigação e um
conjunto de conceitos que produzam explicações materialistas, não
importa quão contraditórias, quão enganosas e quão mitificadas para os não
iniciados. Além disso, para nós o materialismo é
absoluto; não podemos permitir que o "Pé Divino" entre por nossa
porta." (New York Reviews of Books, maio de 1987 -
negritos nossos).
Portanto, devemos sempre ter cuidado com o que
lemos e com as fontes que pesquisamos, sejam elas religiosas, sejam
materialistas, sejam, enfim, de pessoas que se dizem neutras. A ciência é
maravilhosa; infelizmente, os cientistas, contudo, são tão falhos e
compromissados com um determinado ponto de vista quanto qualquer outra pessoa.
(...)
O Santo Sudário pura e simplesmente não pode
ser uma “fraude medieval” porque os detalhes mais convincentes do Crucificado
nele existentes somente são visíveis em negativo. Isto
exclui qualquer possibilidade de que uma mente malvada da Idade Média tenha
confeccionado o pedaço de linho para enganar a nós, pobres homens do século
XXI.
Além disto, os detalhes que surgem na imagem em
negativo acerca da crucifixão simplesmente não eram conhecidos da época em que
supostamente a fraude teria ocorrido.
Na verdade, o único argumento de peso contra a
veracidade do Santo Sudário que eu conheço é a datação de carbono 14 feita,
parece-me, na década de 80 do século passado. Contudo (e sem querer adentrar
aqui no problema intrínseco deste método de datação) mesmo um dos cientistas
que participou da pesquisa reconheceu que houve um problema com ela, visto que
o pedaço de tecido retirado do Santo Sudário havia sido reconstituído por
religiosas no século XV (ou XVI, não me recordo agora) após um incêndio que
danificou as pontas. Todo o caminho traçado por este cientista desde sua
participação na pesquisa até o seu reconhecimento do erro é que foi o objeto do
documentário de que eu disse (e, como você sabe, o Natgeo não é exatamente um
canal preocupado em defender o cristianismo).
(...)
(...)
Na verdade, todo o documentário gira em torno do
fracassado teste de carbono 14 (a única objeção séria levantada em face do
Sudário) e de como um dos cientistas envolvidos (Dr. Raymond Rogers), MUITO A
CONTRAGOSTO, chegou à conclusão de que o teste não teve qualquer validade na
datação, visto que feito em pedaços de pano reconstituído no século XVI.
A honestidade intelectual do Dr. Raymond foi
tamanha que, mesmo com câncer e sabendo ter pouco tempo de vida, fez questão de
gravar seu depoimento e de pedir a amigos cientistas que levassem adiante suas
pesquisas para tirar qualquer dúvida.
E adivinhe qual foi a conclusão deste amigos?
(...)
...terias, por acaso, alguma
explicação para o fato de que os detalhes da crucificação somente aparecem em
negativo e de como poderia um medieval elaborar tamanha e tão fenomenal fraude?
* O autor é Juiz de Direito no Estado de São Paulo